sexta-feira, 1 de julho de 2011

Entre versos


Era uma tarde ensolarada, um dia lindo, diferente de qualquer outro, e eu ali tomada pela vontade de me embriagar de Fernando Veríssimo, Cecilia Meireles ou então de Mario de Andrade para poder curar aquela dor em meu coração que já estava me dominando.
Seria um dia ideal para as pessoas apaixonadas, pessoas que gostariam de aproveitar aquele dia da melhor forma possível, diferente de mim, que estava com o coração partido, com tantas dores passadas e o amargo gosto de sempre ser rejeitada.
Saí então para poder observar aquele lindo dia, e fui em direção ao meu esconderijo: a biblioteca principal da cidade, na esperança de que minha dor seria sarada por bons versos e poemas.
Estava desesperada para poder me encontrar entre estrofes e parágrafos, quando olho e vejo o causador da minha imensa dor: Jhon, o meu amor impossível. Ele estava tão lindo, como eu nunca vira antes, não era o Jhonatas que eu conhecia, algo estava diferente nele, algo nele estava prendendo a minha atenção.
Como se já não bastasse a dor causada em meu coração, eu o encontrei em um lugar onde eu jamais sonharia. Afinal, o que ele, que era um dos garotos populares da escola queria ali ? Procurar livros sobre como seduzir ou encantar as mulheres melhor ? 
Senti uma onda de fúria e ódio me invadir, fúria por ele estar em um espaço que considerava meu, e ódio de mim mesma por ser tão tola a ponto de me apaixonar por um popular, sabendo que jamais seria notada ou percebida por estar atrás de pilhas de livros e de minha dor.
Entrei, fingindo como seu eu não tivesse o visto,  e peguei um livro, na tentativa que já seria inútil de aliviar aquela dor. Nada de poemas, mas conto, já que não sabia quanto tempo ele permaneceria naquele lugar.
Comecei a lê-lo. 10 minutos se passaram. 20. 30, e eu ali, ainda na 2ª página, tentando me concentrar, quando percebo a presença de alguém - era ele.
- Olá Yasmin, será que teria como você me ajudar a encontrar uns livros de literatura? Eu percebi que você entende do assunto.
- Ah sim, claro - gelei por dentro -, vamos lá.
Enquanto caminhava sentia meus pés ficarem mais pesados, como se fossem pedras.
Foi então que entrando no corredor ele me jogou contra a estante, senti seus braços me envolvendo, seu corpo ficando junto ao meu, sentindo seu calor, seu respirar em meu rosto, e suas mãos firmes. Comecei a tremer, meu coração a acelerar, será que eu estava em um sonho, ou era real?
- Yasmin - disse ele -,  sempre tenho te observado, e vejo que você é diferente de qualquer outra garota, você se esconde atrás de seus livros, mas não consegue esconder o brilho que há em você, e quanto mais você se esconde, mais você acende essa chama que há dentro de mim.
- O menino popular se encantou por uma qualquer? Isso é algum tipo de piada? 
E naquele mesmo instante ele sussurrou em meu ouvido: 'eu te amo, eu te amo'. E meu coração, parecia que já esta ligado ao dele, naquele momento só pensava no verso de Arte de Amar: Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo. Porque os corpos se entendem, mas as almas não. 
Entreguei-me a ele, e senti seus lábios se encostarem aos meus como um leve toque te um algodão, como se aquele fosse o meu lugar, que já estivesse preparado para mim.
Aquele momento único, tão desejado, e a partir daquele dia senti aquela dor sumindo.
Meus dias passaram a ter mais vida ao lado dele.
Se fui feliz ? Sim, até o último momento em que ficamos juntos, a cada dia eu me apaixonava mais por ele, até que chegou o dia em que a chama da paixão acabou e o nosso amor se esfriou, foi escurecendo, como um dia nublado, e nossos corações se desentrelaçaram. Mas posso dizer que fui feliz, e que nossas expectativas são muitas vezes frustradas, e que o brilho de uma garota não é apenas o de fora, mas o de dentro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente, mas não serão aceitos palavrões e ofensas.
Que sugestões e críticas sejam bem vindas (: